sábado, outubro 21, 2006

A liberdade de imprensa na Rússia está morta?

Matthias Schepp,
Christian Neef e Uwe Klussmann

O jornalismo é uma profissão perigosa na Rússia: nada menos do que 261 jornalistas foram assassinados no país desde a derrocada da União Soviética. Os assassinos dificilmente são encontrados. O recente assassinato da repórter investigativa russa Anna Politkovskaya poderá agora se transformar em um grande problema político.

A aglomeração de russos parece pequena em meio ao ritmo frenético de uma rua movimentada no centro de Moscou. Flores novas foram depositadas na fachada do edifício em frente ao qual a jornalista Anna Politkovskaya foi executada a tiros em 7 de outubro último, mas a vigília não é particularmente impressionante. Uma mulher idosa participa, assim como um velho professor, que usa óculos de aros grossos. Vinte pessoas compareceram, o que não representa uma grande demonstração em uma cidade cuja população chega a quase 11 milhões de habitantes.

Politkovskaya acusou o presidente russo Vladimir Putin de praticar "terrorismo de Estado", e chamou-o de "araponga da KGB", referindo-se ao passado do presidente como agente do serviço de inteligência soviético. Ele acusou os serviços de inteligência que agora estão sob o comando de Putin de praticarem seqüestros, torturas e assassinatos na Tchetchênia. Tais acusações não são feitas impunemente na Rússia contemporânea. Os elementos politicamente poderosos no Kremlin acusaram Politkovskaya de macular a reputação do seu país.

Ela gostava de usar suéteres de lã fora de moda. Politkovskaya não era uma ideóloga de esquerda nem de direita, mas sim uma espécie de vigilante moral que ficava de olho nos procedimentos dos políticos russos. De certa forma, ela representava para a Rússia aquilo que o jornalista investigativo Seymour Hersh é para os Estados Unidos: uma pessoa incorruptível e determinada. Alguns dos seus colegas achavam que ela fosse fanática, ou até mesmo tendenciosa. Politkovskaya tentou impor normas morais na Rússia pós-soviética.

O edifício de dez andares no qual Politkovskaya morava, na Rua Lesnaya, número oito, foi construído durante a era stalinista. A aparência do prédio é feia. As suas paredes de pedra foram cobertas por uma camada de tinta amarela. Elas estão repletas de pôsteres, papéis com poemas e uma fotografia do presidente russo Vladimir Putin. Ele está usando óculos escuros; os seus olhos estão ocultos.

"O Estado assumiu o controle sobre a mídia"

Em uma foto de Politkovskaya exibida ali perto, alguém escreveu "A Morte da Liberdade de Imprensa". A fotografia está emoldurada por um fundo negro. Mas a inscrição não exprime completamente a verdade, já que as atividades jornalísticas de Politkovskaya já tinham sido em grande parte tolhidas enquanto ela ainda era viva. Ela foi banida da televisão pública estatal, e tinha suas matérias publicadas apenas no pequeno jornal "Novaya Gazeta", que circula duas vezes por semana, e que é lido por apenas 100 mil pessoas.

Ela era filha de um diplomata, mas a jornalista não tinha uma personalidade diplomática. O seu jornalismo investigativo carecia de um público alvo apropriado e de um contexto receptivo na Rússia de Putin. E, na condição de jornalista russa assassinada nos últimos tempos em circunstâncias incomuns, ela não estava só. Pouco mais de uma semana após a sua morte, por exemplo, o diretor de negócios da agência de notícias russa Itar-Tass foi morto a facadas no seu próprio apartamento em Moscou. Anatoly Voronin, 55, trabalhava para a Itar-Tass havia 23 anos.

"O Estado passou assumiu o controle sobre a mídia", explica Vladimir Ryzhkov, um dos últimos políticos oposicionistas na Duma russa. "Dessa forma, nenhuma informação chega à maioria dos russos".

A conclusão, a qual se chega após 15 anos de suposta liberdade de imprensa na Rússia, não poderia ser mais amarga.

O lento estrangulamento da mídia russa

Durante os primeiros anos após o fim da União Soviética, sob o governo do presidente Bóris Yeltsin, os jornalismo russo foi empolgante, duro e
atrevido. Mas a seguir os oligarcas que se apoderaram de setores industriais inteiros durante o processo de privatização compraram partes da estrutura da mídia, dos canais de televisão aos jornais mais importantes. Eles conseguiram suplementar o seu novo poder econômico com poder político.

Putin chegou ao poder com o objetivo declarado de restaurar a autoridade política do Kremlin. Vladimir Gusinsky, o mais importante empresário da mídia no país, foi preso cerca de cinco meses depois. O sem império da mídia - incluindo o canal de televisão NTW - passou ao controle da Gazprom, a empresa estatal que detém o monopólio sobre o gás natural.

O Kremlin agiu no sentido de permitir que companhias estreitamente
associadas ao governo comprassem uma empresa de mídia atrás da outra. Em setembro passado, uma dessas companhias adquiriu o grupo Kommersant, famoso pelas suas altas tiragens e - até então - pelas sua postura crítica em relação ao governo.

O novo proprietário, Alisher Usmanov, que foi um dos principais integrantes da federação da juventude do Partido Comunista, é o responsável por uma subsidiária da Gazprom. Bilionário e amigo de longa data do porta-voz de Putin, Alexei Gromov, ele prometeu "não se imiscuir na política editorial".

Mas, depois disso, Usmanov imediatamente nomeou um aliado de Putin para o cargo de editor-chefe, e se declarou "inteiramente leal ao Estado".

Valery Yakov, o editor-chefe da "Novye Izvestia", relata que os jornais
menores, não conformistas ou críticos, são importunados pelas autoridades com surpreendentes - e por vezes absurdas - operações de proteção contra incêndios ou de controle de saúde.

O resultado de tudo isso foi que o jornalismo investigativo se tornou uma raridade na Rússia. "Quem quer que assuma o lugar de Politkovskaya estará ingressando em uma missão suicida", garante Yelena Tregubova, que escreveu um livro descrevendo as suas experiências como correspondente do Kremlin. Uma bomba explodiu em frente à sua porta pouco após o lançamento do livro.

Segundo Vsevolod Bogdanov, o diretor do Sindicato de Jornalistas Russos, 261 jornalistas russos foram assassinados desde o fim da União Soviética. Somente 21 desses casos foram resolvidos. E, no entanto, Putin anunciou uma "ditadura da lei" quando assumiu o cargo em 2000. Hoje os jornalistas russos constatam que a parte referente à ditadura está em vigor, mas que aquela relativa à lei não existe.

Valery Ivanov, editor-chefe do jornal local em Togliatti, um centro da
indústria automobilística russa e uma cidade repleta de clãs mafiosos, foi assassinado a tiros em abril de 2002. Um ano e meio depois, os assassinos esfaquearam o seu sucessor, Alexei Sidorov. Seis jornalistas tiveram mortes violentas em Togliatti em um período de oito anos.

Yuri Shtshekotshichin, escritor e membro do parlamento, morreu em julho de 2003. Ele pode ter sido envenenado. Assim como Politkovskaya, ele escrevia para a "Novaya Gazeta". Paul Khlebnikov, editor-chefe da edição russa da revista "Forbes", foi morto por pistoleiros que atiraram de um carro em movimento em julho de 2004. Assim como Politkovskaya, ele investigava se as verbas fornecidas por Moscou para a reconstrução na Tchetchênia estavam sendo roubadas em grande escala. Três suspeitos foram absolvidos por falta de provas. Ninguém sabe até hoje quem foi o mandante do assassinato.

O risco diário de se tornar vítima de assassinato também é comum a outras profissões. O vice-diretor do banco central russo foi morto por atiradores desconhecidos um mês atrás, e um gerente de uma agência do banco de câmbio foi assassinado cinco dias após a morte de Politkovskaya. O mandato presidencial de Putin termina em 2008 e, à medida que se aproxima o final do seu governo, a Rússia retorna ao caos generalizado que se via na década de 1990, quando era raro que houvesse uma semana sem um assassinato.

"Covarde armado até os dentes"

Ninguém pode afirmar ao certo quem matou Politkovskaya, mas as autoridades militares russas que foram levadas a julgamento devido aos artigos escritos pela jornalista teriam um motivo óbvio para assassiná-la. Entre essas autoridades está Igor Sechin, vice-diretor da administração presidencial e um homem que se acredita que exerça considerável poder no Kremlin por trás dos bastidores. Sabe-se que radicais de extrema direita também ameaçaram Politkovskaya de morte. Ramzan Kadyrov, o premiê da Tchetchênia, é um outro suspeito: Politkovskaya certa vez chamou-o de um "covarde armado até os dentes".

O procurador-geral da Rússia, Yuri Chaika, declarou que a prisão dos assassinos de Politkovskaya é uma das suas prioridades pessoais. Mas os promotores públicos russos são tidos como figuras longe de serem incorruptíveis. Nina Krushcheva, a neta do ex-líder soviético Nikita Krushchev, chega a acreditar que a declaração de Chaika é "praticamente uma garantia de que os assassinos não serão jamais encontrados".

Pelo menos não os assassinos reais. Durante a sua visita à cidade alemã de Dresden na semana passada, Putin falou sobre as investigações. Discursando no Diálogo de Petersburgo, o fórum anual russo-alemão que neste ano ocorreu em Dresden, Putin se referiu a pessoas que acham que estão acima da lei russa e as acusou de desejarem "sacrificar alguém" a fim de desencadear uma onda de "sentimento anti-russo" no mundo. Foi a sua forma de se referir ao oligarca russo Bóris Berezovsky, o homem que no passado o ajudou a obter o poder político e, a seguir, rumou para o exílio em Londres.

A fala de Putin não dá motivos para boas expectativas com relação às
eleições parlamentares e presidenciais que estão por vir. O Kremlin poderá justificar a interferência nas campanhas da oposição argumentando que os oposicionistas estão sendo financiados por pessoas como Brezovsky - com o objetivo de assegurar que o indivíduo que assumir o controle político em Moscou em 2008 seja alguém aprovado por Putin.

Enquanto isso, Berezovsky divulgou uma declaração em Londres sobre o
assassinato de Politkovskaya, acusando implicitamente Putin de
responsabilidade pela morte da jornalista. Berezovsky declarou que, embora não acredite que Putin tenha ordenado o assassinato, acha que a morte foi "um resultado das políticas do presidente".

Segundo a lógica de Putin, o objetivo do assassinato espetacular não foi a eliminação de uma jornalista intrometida, mas sim prejudicar a reputação do presidente. Será que isso significa que o sistema político no qual tantos jornalistas são assassinados deveria ser objeto de uma investigação?

Tensão em Dresden

O ex-líder da União Soviética, Mikhail Gorbachev, é conhecido pelo seu
relacionamento frio com Putin, o ex-diretor da KBG. Gorbachev estava em
Dresden na mesma ocasião que Putin. Ele atuou como co-diretor do Diálogo de Petersburgo. Gorbachev condenou o assassinato de Politkovskaya, e pediu uma "investigação jornalística" independente.

Mas Gorbachev, o mestre das declarações vagas, também dosou a sua
condenação. Ele falou, de forma sombria, que muitas coisas também ocorrem em outros países, acrescentando que nem todas as investigações feitas pelo jornal de Politkovskaya eram "bem fundamentadas" (porém, o ex-líder comunista é dono de ações do "Novaya Gazeta" desde junho). Além disso, Gorbachev chegou a afirmar: "A Rússia está trilhando firmemente a estrada da democracia".

Em Dresden, Putin estava visivelmente irritado com o fato de a morte de uma jornalista na Rússia ser capaz de interferir com a imagem do seu país. Ele parecia tenso e irritadiço. "Tudo isso é muito ruim para nós", murmurou um diplomata russo, acrescentando, no entanto, que já é hora de a Rússia deixar de receber aulas do Ocidente com relação às questões de liberdade de imprensa.

Dessa forma, Putin frisou que "a influência de Politkovskaya na vida
política" da Rússia" era "muito pequena", repetindo essa afirmativa pelo menos três vezes. "Esse assassinato causa bem mais danos à Rússia , às atuais autoridades na Rússia e na Tchetchênia, do que os artigos que ela escreveu", declarou Putin.

Com essa declaração Putin desejava golpear o Ocidente. Mas aquilo que ele disse - simplesmente no dia do enterro de Politkovskaya - foi algo carregado ao mesmo tempo de impiedade e de cinismo.

Os representantes alemães no grupo de trabalho do Diálogo de Petersburgo voltado para as questões de mídia também ficaram surpresos com a atitude dos seus colegas russos. Todos eles pareceram estar mais ofendidos do que chocados ou perturbados. Politkovskaya acabara de ser homenageada com um minuto de silêncio quando um senador de São Petersburgo bem conhecido exigiu que se prestasse a mesma homenagem às mais recentes mortes de jornalistas no Afeganistão. A mensagem foi clara: o caso de Politkovskaya não tem valor simbólico - ele é apenas mais um dentre os vários vasos comparáveis no mundo.

O futuro da Rússia

A imprensa alemão viu as coisas de forma diferente, mesmo quando os
visitantes russos que estavam em Dresden desejaram retornar à sua agenda pré-estabelecida. Os comentários críticos na imprensa foram interpretados pelos representantes russos como sendo "um ataque orquestrado vindo do outro lado da trincheira". O embaixador da Rússia em Berlim, Vladimir Kotenev, falou de um "jornalismo de campanha alemão". Um repórter da rede de televisão russa "Primeiro Canal" - que é conhecida pela sua simpatia para com o governo de Putin - chegou a fazer uma comparação histórica entre os jornais alemães contemporâneos e a propaganda de mídia da União Soviética durante a década de 1970. Ele concluiu que o único motivo pelo qual os russos mantêm boas relações com a Alemanha é o fato de eles não lerem os jornais alemães.

Um editor-chefe de uma publicação moscovita comentou mais tarde que o
burburinho em Dresden provocado pela morte de Politkovskaya equivalia a "uma conversa entre surdos-mudos". Mas, mais do que isso, o fato parece ter consistido em uma lição sobre as diferenças entre duas culturas jornalísticas - uma lição que causou uma nova sensação de impotência no que diz respeito a como lidar com a Rússia.

As cerca de 3.000 mil pessoas que compareceram ao funeral de Politkovskaya em Moscou na semana passada também pareciam impotentes. Não havia entre elas um só político conhecido aliado a Putin. Os únicos políticos proeminentes que compareceram estiveram no poder durante o governo do predecessor de Putin, Bóris Yeltsin.

O escritor russo Viktor Yerofeyev lembrou a sua época como dissidente
político na União Soviética. Segundo ele, o que ocorreu não foi apenas o assassinato de Anna Politkovskaya, mas também o esmagamento de várias
esperanças quanto ao futuro da Rússia.

Tradução: Danilo Fonseca

Sullen Girl

Days like this, I don't know what to do with myself
all day -- and all night
I wander the halls along the walls and under my
breath
I say to myself
I need fuel -- to take flight

Chorus:
And there's too much going on
but it's calm under the waves, in the blue of my
oblivion
Under the waves in the blue of my oblivion

Is that why they call me a sullen girl -- sullen
girl
They don't know I used to sail the deep and tranquil
sea
But he washed me ashore and he took my pearl --
and left and empty shell of me

Chorus (1x)

Under the waves in the blue of my oblivion
It's calm under the waves in the blue of my oblivion

Fiona Apple

terça-feira, outubro 03, 2006

A Cura

Era uma sexta-feira chuvosa. Elise levantou-se da cama, pegou uma xícara de café e foi conferir a correspondência. Uma carta de Roberto. Enquanto lia, ela tentava esconder a verdade, suas lágrimas, não podia chorar. Porém, era uma carta de adeus, ele terminara com ela por carta! Toda noite até ali, Elise queimara de paixão, agora, queimava a carta de seu amado. Pensou que gostaria de ter ficado na cama hoje, não teria visto a carta, mas só estaria adiando o inevitável. Havia tentado tanto fazer o relacionamento funcionar. Feito sacrifícios. Era tarde demais.

Os dias seguintes foram difíceis. Elise olhava as fotos por tanto tempo que quase acreditava que era tudo que tinha. Sobre a mesa, um exemplar de “O estrangeiro” de Camus. Contudo, não adiantava ficar ali. Ela se recompôs, fez sua escolha sem ele. Continuaria, não sabia como, mas o caminho se desenrolaria perante seus olhos. Os dias viravam semanas e as semanas meses. Elise percebeu que não pensava mais nele como antes. Estava pronta. Dedicou-se ao trabalho, a coisas novas, exercícios, mudou o visual e logo, estava nova.

Meses depois, Elise encontrou Roberto num café. Sem abalar-se, foi até ele e sentou-se.

– Você parece bem, Roberto.

– Elise. Você parece ótima.

– Sim, estou.

– Sabe, eu pensei muito na gente. Sei que o que fiz foi errado...

– Foi, mas nós éramos como gatos apaixonados.

– Você e suas metáforas felinas. Sinto sua falta.

– Desculpe, Roberto. Eu me sentia em casa com você, vou sempre te amar, mas somos apenas lembranças. Guarde-as. – Elise levantou-se e deu um beijo em Roberto. Sem nenhuma palavra, ela virou-se para ir embora.

– Você mudou. – exclamou Roberto.

– De lagarta a borboleta. – ela respondeu enquanto voava para longe.

(Brincadeira de referência)

domingo, outubro 01, 2006

Que tudo se exploda!!!!!

Numa revolta sem igual, devo declarar meu desejo de que o mundo seja implodido para a construção de uma via interespacial desnecessária e liquide esse povinho!!!!

Como pode um estado como São Paulo ter o senhor Paulo Maluf como o primeiro colocado na disputa de deputado federal????? Ninguém aprende nessa porra???? O povo se diz revoltado pelos escândalos de corrupção e coloca Paulo Maluf na câmara????? E Alagoas elege Collor como senador, na antiga vaga de Heloísa Helena? Vai para a PQP!!!!!!

Obrigada pela atenção e nos deculpamos pelo inconveniente.

A programação normal deste blog retornará assim que sua autora recuperar a calma.

DESVANECER

A realidade inquestionável deste mundo se torna

Inconstância dúbia da prepotente matéria.

Gigante casa destes desprezíveis humanos

Não admite ser um grão, no universo ser nada.

Mas o contraste do pequeno notável

Dissolve-se num dia em fumaça esparsa.

O objeto sólido foi forjado

Com a areia dos sonhos de Morfeus.

Feito uma frágil quimera

As certezas desabam.

Viver pode não ser

Mais verdadeiro.

Real fictício

Se torna

Nada

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