quarta-feira, fevereiro 21, 2007

The long and winding road

Clara saiu para comprar pão. Quando se deu conta, estava há uma hora na estrada. Não chegou a se espantar. Sabia que aconteceria em algum momento. Já lutava com a sensação há quase um mês. Uma sensação que conhecia bem demais. O desejo de fugir. Existe um limite de fuga imaginária e Clara esgotara esse limite naquela manhã. Reconhecia não apenas a situação, mas já estivera naquela estrada antes. Poucos anos antes.

Daquela vez não sabia que fugiria. Viajara com amigos em um feriado e o feriado se transformou em seis meses em outra cidade, dois estados de distância. Seis meses sem obrigações e responsabilidades. Seis meses para entender que não fugia de ex-namorados, trabalhos ou dos cacos que ela e os que a conheciam chamavam vida. Fugia de si mesma. Mas essa é uma fuga impossível.

Agora sabia de tudo isso, sabia que de nada adiantaria. Sua tortura viajava consigo. O inferno não era os outros. Mas a estrada é algo engraçado. Uma vez que se inicia a viagem não há escolha, deve-se terminá-la. O retorno só é possível quando a própria estrada dobrar-se e nunca voltamos completamente.

continua...