quinta-feira, julho 27, 2006

DITADURA DA POPULARIDADE

Frederico Barbosa

O povo está no poder: dita.

É mercado, é opinião sem face. É a miséria da popularidade.

São padres cantantes, moças na dança. Leve a música e o gesto leve,

crença, bunda e sabonete.

As pesquisas ditam. Mandam: o povo está sempre certo. O povo é,

o povo quer, o povo demanda, o povo reclama.

Mandam: seja apenas a mesma merda que o povo ama.

Mandam: seja aeromoça na vida. Sorria sempre: bailarina medíocre.

Faça-se média. Desconsidere-se.

Não pense, nunca faça pensar,

não seja irônico, diga só o que querem: ouvir-se no espelho da mesmice.

Deixe-se xingar, entregue-se, venda-se de corpo e alma. E, acima de tudo, calma:

nunca reclame (des)contente(-se) e cale-se.

Crie-se como imagem, (vazio marcante) marque-se, migalhe-se, seja só o velho,

espalhe-se farelo.

Anule-se: anúncio refrescante, seja refrigerante anta ante.

Ensinam assim: como quem hoje canta. Bajule, puxe, seja banal.

Pule, grite, apague-se nas luzes. Transforme todo som

poema problema em apelo sexual.

Apele: salve sua pele.

Medalhões, pomadas.

(Machado vendo antes)

Palhaços, patetas, enganadores,

falsos magos, pseudopoetas,

professores:

Uni-vos no segredo do bonzo.

O povo julga, joga

pedras, o povo

é sábio, sabe:

quem planta pérolas

colhe tempestade.