terça-feira, outubro 03, 2006

A Cura

Era uma sexta-feira chuvosa. Elise levantou-se da cama, pegou uma xícara de café e foi conferir a correspondência. Uma carta de Roberto. Enquanto lia, ela tentava esconder a verdade, suas lágrimas, não podia chorar. Porém, era uma carta de adeus, ele terminara com ela por carta! Toda noite até ali, Elise queimara de paixão, agora, queimava a carta de seu amado. Pensou que gostaria de ter ficado na cama hoje, não teria visto a carta, mas só estaria adiando o inevitável. Havia tentado tanto fazer o relacionamento funcionar. Feito sacrifícios. Era tarde demais.

Os dias seguintes foram difíceis. Elise olhava as fotos por tanto tempo que quase acreditava que era tudo que tinha. Sobre a mesa, um exemplar de “O estrangeiro” de Camus. Contudo, não adiantava ficar ali. Ela se recompôs, fez sua escolha sem ele. Continuaria, não sabia como, mas o caminho se desenrolaria perante seus olhos. Os dias viravam semanas e as semanas meses. Elise percebeu que não pensava mais nele como antes. Estava pronta. Dedicou-se ao trabalho, a coisas novas, exercícios, mudou o visual e logo, estava nova.

Meses depois, Elise encontrou Roberto num café. Sem abalar-se, foi até ele e sentou-se.

– Você parece bem, Roberto.

– Elise. Você parece ótima.

– Sim, estou.

– Sabe, eu pensei muito na gente. Sei que o que fiz foi errado...

– Foi, mas nós éramos como gatos apaixonados.

– Você e suas metáforas felinas. Sinto sua falta.

– Desculpe, Roberto. Eu me sentia em casa com você, vou sempre te amar, mas somos apenas lembranças. Guarde-as. – Elise levantou-se e deu um beijo em Roberto. Sem nenhuma palavra, ela virou-se para ir embora.

– Você mudou. – exclamou Roberto.

– De lagarta a borboleta. – ela respondeu enquanto voava para longe.

(Brincadeira de referência)

Um comentário:

ZINE QUA NON disse...

Mudanças!!!

Nada como uma bela decepção, um belo fim de relacionamento, uma bela chuva de lágrimas, para termos um belo aprendizado.

Beijos